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A permanência de Oswald de Andrade

Resenha do livro “Por que ler Oswald de Andrade”, de Maria Augusta Fonseca, Editora Globo, 2008.

por Rubens de Oliveira Martins*

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Em outubro de 1954, falecia em São Paulo Oswald de Andrade, escritor modernista que simboliza o ideal de liberdade e de efervescência intelectual característicos tanto das vanguardas modernistas de 1922, quanto dos intelectuais posteriormente formados na tradição da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Pouco mais de 50 anos nos separam do convívio com sua figura quixotesca, mas as histórias lendárias a respeito de sua vida pessoal e de sua obra literária continuam vivas e mesclando fatos reais com a imaginação fortemente marcada por atitudes à frente de seu tempo, sem concessões nem meias palavras.

Atualmente podemos dizer que Oswald de Andrade continua sendo mais famoso do que lido, conhecido pelas façanhas que são repetidas freqüentemente pelos manuais de teoria literária utilizados nos colégios. É certo que a retomada da leitura da obra oswaldiana, em prosa, poesia e teatro, é necessária para ultrapassar a dimensão lendária de Oswald de Andrade, e demonstrar sua atualidade e importância.

A possibilidade dessa leitura renovada da obra oswaldiana recebe agora um novo alento com o livro de Maria Augusta Fonseca – “Por que ler Oswald de Andrade” – , que vem a público no mesmo momento em que a Editora Globo re-lança a obra completa de Oswald de Andrade (lembrando que as últimas publicações da obra de Oswald ocorreram nos anos 70, pela Editora Civilização Brasileira, e nos anos 90, pela própria Editora Globo), permitindo o acesso de novos leitores aos seus textos.

Maria Augusta Fonseca é doutora em Letras e docente do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e é autora de uma importante biografia do autor — publicada originalmente em 1990, e republicada em 2007), o que demonstra as credenciais de especialista e conhecedora do tema.

No livro “Por que ler Oswald de Andrade” a autora apresenta inicialmente uma síntese biográfica de Oswald (no capítulo “Um retrato do artista”), que corresponde a uma iniciação para compreender como vida e obra estão entrelaçados naquele autor. Em seguida encontramos uma “Cronologia” que situa o autor no contexto socio, culturall e político de sua época. Aproveitando-se do domínio de sua formação de crítica literária, a autora nos conduz então pelo capítulo “Ensaio de leitura”, tecendo comentários sobre as obras mais significativas do autor, e complementando essa apresentação com o capítulo “Entre aspas”, no qual o leitor encontra trechos selecionados do próprio Oswald, tomando contato com a força de seu texto. Finalmente, o capítulo “Estante” proporciona uma

bibliografia selecionada dos estudos críticos sobre a obra oswaldiana, biografias, teses e dissertações acadêmicas, e a obra completa do autor. Com seu livro a autora contribui para compreender como a dimensão “lendária” em torno do nome de Oswald de Andrade, associada falsamente à “falta de seriedade”, resultou em uma redução e uma simplificação em relação à sua importância para a vida literária e para a crítica das instituições sociais e políticas no Brasil.

Os leitores de Oswald de Andrade, uma vez iniciados por Maria Augusta Fonseca, poderiam então imaginar que se Oswald vivesse no Brasil atual ainda encontraria motivos suficientes para a manutenção da postura inquieta diante das situações de injustiça que perduram e que dariam matéria a sua língua ferina e as suas sátiras cortantes, sempre permeadas de um humor capaz de transformar em riso aquela seriedade ambicionada pelos desmandos de governos arrogantes.

“Por que ler Oswald de Andrade” demonstra que a atualidade dessa crítica pode ser comprovada pela leitura de “Memórias sentimentais de João Miramar” e “Serafim Ponte Grande”, dois dos livros mais geniais de nossa literatura, bem como pela leitura dos artigos de Oswald publicados em jornais, ou das polêmicas intelectuais em que se envolveu até o fim da vida, sem renunciar à postura de inconformismo e crítica que o caracterizou.

No Brasil do século XXI, submetido a escândalos políticos, crise dos valores éticos da vida pública, desvios de recursos públicos, desigualdades sociais, desemprego, epidemias de doenças típicas das regiões mais atrasadas do planeta, e, finalmente, apagões que nos condenam a um retorno a hábitos, Oswald de Andrade continua a ser uma personalidade que faz muita falta.

Talvez para nós brasileiros, acostumados a nos adaptar às adversidades, fosse necessário pelo menos tentar modificar uma das características que nos distingue: a falta de memória, que tantas coisas valiosas de nossa história acaba perdendo. E para esse exercício de rememorar, novamente o livro de Maria Augusta Fonseca se mostra importante, em especial ao apresentar a peça “O Rei da Vela”, que Oswald de Andrade escreveu em 1937, que destila uma Crítica profunda sobre os riscos da hipocrisia, alienação e o conformismo. Encenada somente 30 anos depois de publicada, em 1967, sob a direção vanguardista de José Celso Martinez Correia, a peça se mantém atual porque, nas palavras do próprio Zé Celso: “Não é a peça de Oswald que é datada, é o Brasil que é datado!”.

Em 2000, em plena crise do “apagão” elétrico “O Rei da Vela” voltou aos palcos brasileiros, quase 30 anos depois da primeira montagem, e com a mesma força crítica capaz de inquietar as platéias modernas, ao mesmo tempo em que parecia transformar a ficção em realidade, quando os telejornais mostravam reportagens sobre o retorno de lampiões e velas de sebo nas modernas residências de nossas cidades.

Infelizmente ainda hoje convivemos com “apagões” mais graves, pois dizem respeito à moralidade, e a visão crítica do “Rei da Vela” oswaldiano ainda parece bastante apropriada, com sua carga de denúncia e inconformismo, e estaria exigindo uma nova montagem! Enquanto a aguardamos, nada mais salutar que a leitura do Livro de Maria Augusta Fonseca, que permite que novos leitores se iniciem na genialidade da obra de Oswald de Andrade.

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* Gestor Governamental do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT. Mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo e Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília. Professor de Sociologia nas Faculdades Integradas da UPIS – DF. Autor do livro “Um ciclone na Paulicéia: Oswald de Andrade e os limites da vida intelectual em São Paulo”

UM CICLONE NA PAULICÉIA: OSWALD DE ANDRADE E OS LIMITES DA VIDA INTELECTUAL EM SÃO PAULO (1900-1950)

MARTINS, Rubens de Oliveira. Um ciclone na Paulicéia: Oswald de Andrade e os limites da vida intelectual em São Paulo (1900-1950). 1997. 171f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

Texto Um Ciclone na Pauliceia

Coreografias de Marília de Andrade inspiradas na Obra de Oswald de Andrade


IMPRESSÕES BRASILEIRAS

Impressões Brasileiras é um espetáculo de Dança-teatro criado para homenagear o  centenário de Villa-Lobos. Seu conteúdo dramático é inspirado em textos de Raul Bopp, Oswald de Andrade e Mario de Andrade e em mitos populares amazonenses seguindo a trilha do movimento modernista brasileiro do qual Villa-Lobos parrticipou. Com esta mesma concepção foram criados os figurinos, os objetos de cena, a partir de elementos gráficos e da estética do pintor francês Fernand Leger o qual teve grande influencia na obra de Tarsila do Amaral.

1 . Impressões Brasileiras — 1987

Músicas: Villa Lobos

Apresentações:  Teatro do Centro de Convivência — Campinas

Teatro SESC — São Paulo

Duração: 1 h 20’

BAILE DO OSWALD

Coreografia para Performance Coletiva

2 . Baile de Oswald — 2003

Músicas: Túnica e Janice Vieira

Apresentação: Oficina Cultural Oswald de Andrade

O CORSÁRIO E O PORTO

Coreografia inspirada em “Cânticos para Flauta e Violão”

3. O Corsário e o Porto — 2004

Homenagem aos 50 anos de morte de Oswald de Andrade (1891-1954)

Músicas: Grupo Anima

Apresentação: Oficina Cultural Oswald de Andrade

Duração: 8’

VILLA EM MOVIMENTO

“Villa em Movimento” é uma readaptação do espetáculo de dança-teatro “Impressões Brasileiras”. As danças foram  inteiramente reelaboradas pela coreógrafa, permanecendo, entretanto, trechos do roteiro original,  condensados, e a mesma concepção visual do espetáculo original.

4 . Villa em Movimento — 2005

Músicas: Villa Lobos

Apresentações: Festival “Dança em Trânsito” — Junho 2005

Centro Coreográfico do Rio de Janeiro

Mostra “Corpo Coletivo” — Junho 2005

Centro Coreográfico do Rio de Janeiro

Carreau du Temple — Julho 2005

Comemorações do Ano  Brasil – França

Duração: 35’

“Cultura pela Culatra”, de José Miguel Wisnik

Sem Receita. São Paulo, PubliFolha, 2004.

“Comendo Como Gente: Formas do Canibalismo Wari”, de Aparecida Vilaça

RJ, Ed UFRJ,1992.

“Duas Viagens ao Brasil”, de Hans Staden

Belo Horizonte/ São Paulo: Ed. Itatiaia/EDUSP, 1974. (Coleção Reconquista do Brasil, 17).

“Como Escrever a História do Brasil”, de Von Martius

Revista do IHGB, Rio de Janeiro, 1844.

“Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro”, de Gilberto Mendonça Teles

Petrópolis, Ed Vozes, 1977.

“Viagem pelo Brasil”, de Spix & Martius

Trad. Lúcia Furquim Lahmeyer. São Paulo, Edusp, 1981.

“Brasil, da Antropofagia a Brasília” de Jorge Schwartz

Cosac Naify, 2003.

“As Barbas do Imperador”, de Lilia Moritz Schwarcz

Companhia das Letras, 1998.

“Esperando Foucault, ainda”, de Marshall Sahlins

Tradução Eduardo Viveiros de Castro e Marcela Coelho de Souza. São Paulo, Ed Cosac Naify, 2004.

“5 Séculos de Antropofagia: Uma Releitura do Manifesto Antropófago”, de João Cezar de Castro Rocha

Ciência Hoje, Rio de Janeiro, v. 25, p. 44 – 49, 01 dez. 1998.

“Devorando Oswald” de João Cezar de Castro Rocha

Folha de S. Paulo / MAIS!, São Paulo, p. 4 – 6, 10 out. 2004.

“Um Tempo Antropófago para Um Espaço Multicultural”, de João Cezar de Castro Rocha

Notas sobrre antropofagia e multiculturalismo. In: Walter Bruno Berg; Cláudia Nogueira Brieger; Joachim Michael; Markus Kalus Schaeffauer. (Org.). As Américas do Sul no contexto latino-americano. Tuebingen: Max Niemeyer, 2001, p. 258-269.