Coletânea de entrevistas concedidas pelo agressivo, polêmico, irreverente e arguto escritor modernista, publicadas em jornais como Correio Paulistano, Folha da Manhã, Diário de São Paulo, Diário de Minas e O Estado de S. Paulo entre 1924 e 1954.
Tudo o que está aí nós nos perguntamos cada dia. Você poderia fazê-lo e é por isso que estamos arriscando tanto. Você sabe o que é desbunde? Você já saiu do caminho certo? Você sabe qual é o caminho certo? Nós não queremos voltar a ele, sabe? Estamos entre um sim e um não reais. Ou lobotomizam todos os cérebros, ou vamos juntos procurar novos caminhos. Se não se quiser novos e arriscados caminhos, não vamos poder ficar sós, vamos ter que nos lobotomizar. Faremos uma peça cultural com muito ritmo, muito senso, você nos dará todos os prêmios e regressaremos em família ao vazio, Ã seriedade etc. Mas nem você vai gostar. Você vai precisar dessa nossa imagem arrebentada de exército de Brancaleone.
Zé Celso Martinez Corrêa.
De todas as posturas imagináveis, a de vítima, a do sacrificado que sofre da injustiça ou em nome do ideal, foi a que Zé Celso sempre recusou encenar. Mesmo na pior das situações, em 1974, quando ele escreve S.O.S., em que explicitamente ele pede ajuda, ele não espera compaixão. Mais do que um apelo desesperado, S.O.S. (“sozinhos”) é um convite urgente a um projeto de luta, de união, de reafirmação da nossa humanidade. Aviso de que o mundo é a reinventar, mais do que a justiça restabelecer: “Eu tenho a declarar que a consciência que nasce no teatro é a consciência de gestação de uma nova humanidade”.
Ana Helena Camargo de Staal