O SER TÃO BIXIGA (PRIMEIRA RESENHA EM TORVELHINHO DE PENSAMENTOS ANTROPOFÃGICOS SOBRE A TERRA (OS SERTÕES-TEATRO OFICINA) NA VISÃO DE UM REBENTO DO BIXIGA)
1.SEMOVENTES VISLUMBRAM A CACIMBA
Treze horas e trinta minutos chego a porta da grande Oficina, sim lá estava ela, rígida, imponente, vibrante, pulsante. Ao seu redor em torvelhinho uma multidão de novos sertanejos paulistanos em riste, ávidos em penetrar a porta gelo-azul extasiante da Canudos-Monte Santo-Bixigão. Todos enfileirados. Acima de seus parietais o sol a pino, semi-árido do nordeste da República Federativa do Brasil. Sente-se em todos a face do Ser tão São Paulo, paulistano, paulistano-nordestino-boliviano-paraguaio-coreano-italiano-japônes-inglês-alemão. Todos em um só rito, credo e vibrações num único lugar.Nunca pensei que fosse presenciar algo de tal gênero na encouraçada platinada Sã Pã , mas estava acontecendo a minha frente em plena segunda-feira, vinte e três de dezembro de dois mil e dois, antevéspera do natal. Faltando poucos instantes para o inicio da missa a multidão dobrava a esquina da rua Jaceguai com a Abolição, todos ao entorno do Oficina abraçando-o suas raízes, entranhas, e a sua simbíotica terra.
Inopinadamente no interior do gueto algo começa a pulsar, bater, entorpecer. Silêncio !!!! Entre os olhos soturnos exteriores ao templo combinado com o suadouro coletivo simbiótico dos bois e vacas há Tremor, tremedeira, avalanche em compasso grave contínuo. De dentro para fora abre-se a porteira-mangedoura. Candangos em alveas túnicas passam a rodopiar entre a pastagem e os semoventes do planalto da Serra do Grão-Bixiga , mais abaixo em sua volta, precisamente a oeste da Serra uma grande erosão reina no ar, congelando o árido sertão, parece até o do deserto do Saara.
Novamente, silêncio !!!!!!!!!!!! Os candangos emancipados travam nas pálpebras dos novos sertanejos o mistério de Canudos, da nova-canudos-bixiguenta. Entre os candangos uma galega da Terra destaca-se com a sua auréola concupiscente. Imediatamente a nova estirpe é induzida, instigada e auxiliada a ver a TERRA. Cerra-se o portal-totem e os novos ruminantes dirigem-se eretos as suas baias, observam-se e notam-se. Após assentarem os retos começa o movimento do xote oficineiro, em seqüência o rebanho seguindo os pastores colocam as suas angústias, diabruras e liames para fora. O aquecimento dissipa a pesada massa cinzenta da Sa Pã, mas não deixa o pulso central da capital da América Latina sair. A atmosfera fica limpa, úmida como o cheiro da chuva, nem uma atmosfera gélida, nem um sol de torradeira do pleno verão nordestino do bairro da liberdade.
Apenas um gostoso cheiro de chuva ameno, sensação vibrante de bem estar pelado, sem máscaras. Todos são enfeitiçados a participar, até os mais retesados não escondem a sua vontade. Nas catacumbas todos começam a se libertar pulam, rolam, cantam, são cavalos, bois e vacas entrando nas ocas das cabeças pensantes. Ninguém é rico ou pobre, não há distinção entre órgãos, ou entre as vaginas raspadinhas, moicanas ou cabeludas.
Em primeiro lugar PARABÉNS pelo site!!! Oswald merecia há tempos uma iniciativa dessas! Também gostaria de saber se há interesse de vocês em receber textos sobre Oswald…fiz minha dissertação de mestrado na Sociologia da USP sobre Oswald de Andrade como “intelectual marginal” (publicado) e também tenho uma resenha sobre o recente livro da Maria Augusta Fonseca (Por que ler OA?). Ficaria feliz em disponibilizar esses textos deixando em domínio público no site. Abraços
Rubens Martins
A permanência de Oswald de Andrade
Rubens de Oliveira Martins*
Resenha do livro “Por que ler Oswald de Andrade”, de
Maria Augusta Fonseca, Editora Globo, 2008.
Em outubro de 1954, falecia em São Paulo Oswald de Andrade, escritor modernista que simboliza o ideal de liberdade e de efervescência intelectual característicos tanto das vanguardas modernistas de 1922, quanto dos intelectuais posteriormente formados na tradição da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Pouco mais de 50 anos nos separam do convívio com sua figura quixotesca, mas as histórias lendárias a respeito de sua vida pessoal e de sua obra literária continuam vivas e mesclando fatos reais com a imaginação fortemente marcada por atitudes à frente de seu tempo, sem concessões nem meias palavras.
Atualmente podemos dizer que Oswald de Andrade continua sendo mais famoso do que lido, conhecido pelas façanhas que são repetidas freqüentemente pelos manuais de teoria literária utilizados nos colégios. É certo que a retomada da leitura da obra oswaldiana, em prosa, poesia e teatro, é necessária para ultrapassar a dimensão lendária de Oswald de Andrade, e demonstrar sua atualidade e importância.
A possibilidade dessa leitura renovada da obra oswaldiana recebe agora um novo alento com o livro de Maria Augusta Fonseca – “Por que ler Oswald de Andrade” – , que vem a público no mesmo momento em que a Editora Globo re-lança a obra completa de Oswald de Andrade (lembrando que as últimas publicações da obra de Oswald ocorreram nos anos 70, pela Editora Civilização Brasileira, e nos anos 90, pela própria Editora Globo), permitindo o acesso de novos leitores aos seus textos.
Maria Augusta Fonseca é doutora em Letras e docente do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e é autora de uma importante biografia do autor — publicada originalmente em 1990, e republicada em 2007), o que demonstra as credenciais de especialista e conhecedora do tema.
No livro “Por que ler Oswald de Andrade” a autora apresenta inicialmente uma síntese biográfica de Oswald (no capítulo “Um retrato do artista”), que corresponde a uma iniciação para compreender como vida e obra estão entrelaçados naquele autor. Em seguida encontramos uma “Cronologia” que situa o autor no contexto socio, culturall e político de sua época. Aproveitando-se do domínio de sua formação de crítica literária, a autora nos conduz então pelo capítulo “Ensaio de leitura”, tecendo comentários sobre as obras mais significativas do autor, e complementando essa apresentação com o capítulo “Entre aspas”, no qual o leitor encontra trechos selecionados do próprio Oswald, tomando contato com a força de seu texto. Finalmente, o capítulo “Estante” proporciona uma bibliografia selecionada dos estudos críticos sobre a obra oswaldiana, biografias, teses e dissertações acadêmicas, e a obra completa do autor.
Com seu livro a autora contribui para compreender como a dimensão “lendária” em torno do nome de Oswald de Andrade, associada falsamente à “falta de seriedade”, resultou em uma redução e uma simplificação em relação à sua importância para a vida literária e para a crítica das instituições sociais e políticas no Brasil.
Os leitores de Oswald de Andrade, uma vez iniciados por Maria Augusta Fonseca, poderiam então imaginar que se Oswald vivesse no Brasil atual ainda encontraria motivos suficientes para a manutenção da postura inquieta diante das situações de injustiça que perduram e que dariam matéria a sua língua ferina e as suas sátiras cortantes, sempre permeadas de um humor capaz de transformar em riso aquela seriedade ambicionada pelos desmandos de governos arrogantes.
“Por que ler Oswald de Andrade” demonstra que a atualidade dessa crítica pode ser comprovada pela leitura de “Memórias sentimentais de João Miramar” e “Serafim Ponte Grande”, dois dos livros mais geniais de nossa literatura, bem como pela leitura dos artigos de Oswald publicados em jornais, ou das polêmicas intelectuais em que se envolveu até o fim da vida, sem renunciar à postura de inconformismo e crítica que o caracterizou.
No Brasil do século XXI, submetido a escândalos políticos, crise dos valores éticos da vida pública, desvios de recursos públicos, desigualdades sociais, desemprego, epidemias de doenças típicas das regiões mais atrasadas do planeta, e, finalmente, apagões que nos condenam a um retorno a hábitos, Oswald de Andrade continua a ser uma personalidade que faz muita falta.
Talvez para nós brasileiros, acostumados a nos adaptar à s adversidades, fosse necessário pelo menos tentar modificar uma das características que nos distingue: a falta de memória, que tantas coisas valiosas de nossa história acaba perdendo.
E para esse exercício de rememorar, novamente o livro de Maria Augusta Fonseca se mostra importante, em especial ao apresentar a peça “O Rei da Vela”, que Oswald de Andrade escreveu em 1937, que destila uma Crítica profunda sobre os riscos da hipocrisia, alienação e o conformismo. Encenada somente 30 anos depois de publicada, em 1967, sob a direção vanguardista de José Celso Martinez Correia, a peça se mantém atual porque, nas palavras do próprio Zé Celso: “Não é a peça de Oswald que é datada, é o Brasil que é datado!”.
Em 2000, em plena crise do “apagão” elétrico “O Rei da Vela” voltou aos palcos brasileiros, quase 30 anos depois da primeira montagem, e com a mesma força crítica capaz de inquietar as platéias modernas, ao mesmo tempo em que parecia transformar a ficção em realidade, quando os telejornais mostravam reportagens sobre o retorno de lampiões e velas de sebo nas modernas residências de nossas cidades.
Infelizmente ainda hoje convivemos com “apagões” mais graves, pois dizem respeito à moralidade, e a visão crítica do “Rei da Vela” oswaldiano ainda parece bastante apropriada, com sua carga de denúncia e inconformismo, e estaria exigindo uma nova montagem! Enquanto a aguardamos, nada mais salutar que a leitura do Livro de Maria Augusta Fonseca, que permite que novos leitores se iniciem na genialidade da obra de Oswald de Andrade.
Peço que me orientem como fazer para enviar um arquivo em anexo: gostaria de enviar o texto de meu livro (tese de mestrado) “Um ciclone na paulicéia: oswald de Andrade e a Vida Intelectual em São Paulo”. Também tenho uma sugestão: eu poderia enviar um arquivo com as capas das primeiras edições de Oswald de Andrade para colocar no site. Abraços Rubens
oi eu fiz um espetaculo com texto de Oswald, como faço para constar do site? testando….
O SER TÃO BIXIGA (PRIMEIRA RESENHA EM TORVELHINHO DE PENSAMENTOS ANTROPOFÃGICOS SOBRE A TERRA (OS SERTÕES-TEATRO OFICINA) NA VISÃO DE UM REBENTO DO BIXIGA)
1.SEMOVENTES VISLUMBRAM A CACIMBA
Treze horas e trinta minutos chego a porta da grande Oficina, sim lá estava ela, rígida, imponente, vibrante, pulsante. Ao seu redor em torvelhinho uma multidão de novos sertanejos paulistanos em riste, ávidos em penetrar a porta gelo-azul extasiante da Canudos-Monte Santo-Bixigão. Todos enfileirados. Acima de seus parietais o sol a pino, semi-árido do nordeste da República Federativa do Brasil. Sente-se em todos a face do Ser tão São Paulo, paulistano, paulistano-nordestino-boliviano-paraguaio-coreano-italiano-japônes-inglês-alemão. Todos em um só rito, credo e vibrações num único lugar.Nunca pensei que fosse presenciar algo de tal gênero na encouraçada platinada Sã Pã , mas estava acontecendo a minha frente em plena segunda-feira, vinte e três de dezembro de dois mil e dois, antevéspera do natal. Faltando poucos instantes para o inicio da missa a multidão dobrava a esquina da rua Jaceguai com a Abolição, todos ao entorno do Oficina abraçando-o suas raízes, entranhas, e a sua simbíotica terra.
Inopinadamente no interior do gueto algo começa a pulsar, bater, entorpecer. Silêncio !!!! Entre os olhos soturnos exteriores ao templo combinado com o suadouro coletivo simbiótico dos bois e vacas há Tremor, tremedeira, avalanche em compasso grave contínuo. De dentro para fora abre-se a porteira-mangedoura. Candangos em alveas túnicas passam a rodopiar entre a pastagem e os semoventes do planalto da Serra do Grão-Bixiga , mais abaixo em sua volta, precisamente a oeste da Serra uma grande erosão reina no ar, congelando o árido sertão, parece até o do deserto do Saara.
Novamente, silêncio !!!!!!!!!!!! Os candangos emancipados travam nas pálpebras dos novos sertanejos o mistério de Canudos, da nova-canudos-bixiguenta. Entre os candangos uma galega da Terra destaca-se com a sua auréola concupiscente. Imediatamente a nova estirpe é induzida, instigada e auxiliada a ver a TERRA. Cerra-se o portal-totem e os novos ruminantes dirigem-se eretos as suas baias, observam-se e notam-se. Após assentarem os retos começa o movimento do xote oficineiro, em seqüência o rebanho seguindo os pastores colocam as suas angústias, diabruras e liames para fora. O aquecimento dissipa a pesada massa cinzenta da Sa Pã, mas não deixa o pulso central da capital da América Latina sair. A atmosfera fica limpa, úmida como o cheiro da chuva, nem uma atmosfera gélida, nem um sol de torradeira do pleno verão nordestino do bairro da liberdade.
Apenas um gostoso cheiro de chuva ameno, sensação vibrante de bem estar pelado, sem máscaras. Todos são enfeitiçados a participar, até os mais retesados não escondem a sua vontade. Nas catacumbas todos começam a se libertar pulam, rolam, cantam, são cavalos, bois e vacas entrando nas ocas das cabeças pensantes. Ninguém é rico ou pobre, não há distinção entre órgãos, ou entre as vaginas raspadinhas, moicanas ou cabeludas.
F.BRUNO DE SOUZA (NANDO FABRI/SP/RR) e-mail: fefabri@hotmail.com
Em primeiro lugar PARABÉNS pelo site!!! Oswald merecia há tempos uma iniciativa dessas! Também gostaria de saber se há interesse de vocês em receber textos sobre Oswald…fiz minha dissertação de mestrado na Sociologia da USP sobre Oswald de Andrade como “intelectual marginal” (publicado) e também tenho uma resenha sobre o recente livro da Maria Augusta Fonseca (Por que ler OA?). Ficaria feliz em disponibilizar esses textos deixando em domínio público no site. Abraços
Rubens Martins
A permanência de Oswald de Andrade
Rubens de Oliveira Martins*
Resenha do livro “Por que ler Oswald de Andrade”, de
Maria Augusta Fonseca, Editora Globo, 2008.
Em outubro de 1954, falecia em São Paulo Oswald de Andrade, escritor modernista que simboliza o ideal de liberdade e de efervescência intelectual característicos tanto das vanguardas modernistas de 1922, quanto dos intelectuais posteriormente formados na tradição da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Pouco mais de 50 anos nos separam do convívio com sua figura quixotesca, mas as histórias lendárias a respeito de sua vida pessoal e de sua obra literária continuam vivas e mesclando fatos reais com a imaginação fortemente marcada por atitudes à frente de seu tempo, sem concessões nem meias palavras.
Atualmente podemos dizer que Oswald de Andrade continua sendo mais famoso do que lido, conhecido pelas façanhas que são repetidas freqüentemente pelos manuais de teoria literária utilizados nos colégios. É certo que a retomada da leitura da obra oswaldiana, em prosa, poesia e teatro, é necessária para ultrapassar a dimensão lendária de Oswald de Andrade, e demonstrar sua atualidade e importância.
A possibilidade dessa leitura renovada da obra oswaldiana recebe agora um novo alento com o livro de Maria Augusta Fonseca – “Por que ler Oswald de Andrade” – , que vem a público no mesmo momento em que a Editora Globo re-lança a obra completa de Oswald de Andrade (lembrando que as últimas publicações da obra de Oswald ocorreram nos anos 70, pela Editora Civilização Brasileira, e nos anos 90, pela própria Editora Globo), permitindo o acesso de novos leitores aos seus textos.
Maria Augusta Fonseca é doutora em Letras e docente do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e é autora de uma importante biografia do autor — publicada originalmente em 1990, e republicada em 2007), o que demonstra as credenciais de especialista e conhecedora do tema.
No livro “Por que ler Oswald de Andrade” a autora apresenta inicialmente uma síntese biográfica de Oswald (no capítulo “Um retrato do artista”), que corresponde a uma iniciação para compreender como vida e obra estão entrelaçados naquele autor. Em seguida encontramos uma “Cronologia” que situa o autor no contexto socio, culturall e político de sua época. Aproveitando-se do domínio de sua formação de crítica literária, a autora nos conduz então pelo capítulo “Ensaio de leitura”, tecendo comentários sobre as obras mais significativas do autor, e complementando essa apresentação com o capítulo “Entre aspas”, no qual o leitor encontra trechos selecionados do próprio Oswald, tomando contato com a força de seu texto. Finalmente, o capítulo “Estante” proporciona uma bibliografia selecionada dos estudos críticos sobre a obra oswaldiana, biografias, teses e dissertações acadêmicas, e a obra completa do autor.
Com seu livro a autora contribui para compreender como a dimensão “lendária” em torno do nome de Oswald de Andrade, associada falsamente à “falta de seriedade”, resultou em uma redução e uma simplificação em relação à sua importância para a vida literária e para a crítica das instituições sociais e políticas no Brasil.
Os leitores de Oswald de Andrade, uma vez iniciados por Maria Augusta Fonseca, poderiam então imaginar que se Oswald vivesse no Brasil atual ainda encontraria motivos suficientes para a manutenção da postura inquieta diante das situações de injustiça que perduram e que dariam matéria a sua língua ferina e as suas sátiras cortantes, sempre permeadas de um humor capaz de transformar em riso aquela seriedade ambicionada pelos desmandos de governos arrogantes.
“Por que ler Oswald de Andrade” demonstra que a atualidade dessa crítica pode ser comprovada pela leitura de “Memórias sentimentais de João Miramar” e “Serafim Ponte Grande”, dois dos livros mais geniais de nossa literatura, bem como pela leitura dos artigos de Oswald publicados em jornais, ou das polêmicas intelectuais em que se envolveu até o fim da vida, sem renunciar à postura de inconformismo e crítica que o caracterizou.
No Brasil do século XXI, submetido a escândalos políticos, crise dos valores éticos da vida pública, desvios de recursos públicos, desigualdades sociais, desemprego, epidemias de doenças típicas das regiões mais atrasadas do planeta, e, finalmente, apagões que nos condenam a um retorno a hábitos, Oswald de Andrade continua a ser uma personalidade que faz muita falta.
Talvez para nós brasileiros, acostumados a nos adaptar à s adversidades, fosse necessário pelo menos tentar modificar uma das características que nos distingue: a falta de memória, que tantas coisas valiosas de nossa história acaba perdendo.
E para esse exercício de rememorar, novamente o livro de Maria Augusta Fonseca se mostra importante, em especial ao apresentar a peça “O Rei da Vela”, que Oswald de Andrade escreveu em 1937, que destila uma Crítica profunda sobre os riscos da hipocrisia, alienação e o conformismo. Encenada somente 30 anos depois de publicada, em 1967, sob a direção vanguardista de José Celso Martinez Correia, a peça se mantém atual porque, nas palavras do próprio Zé Celso: “Não é a peça de Oswald que é datada, é o Brasil que é datado!”.
Em 2000, em plena crise do “apagão” elétrico “O Rei da Vela” voltou aos palcos brasileiros, quase 30 anos depois da primeira montagem, e com a mesma força crítica capaz de inquietar as platéias modernas, ao mesmo tempo em que parecia transformar a ficção em realidade, quando os telejornais mostravam reportagens sobre o retorno de lampiões e velas de sebo nas modernas residências de nossas cidades.
Infelizmente ainda hoje convivemos com “apagões” mais graves, pois dizem respeito à moralidade, e a visão crítica do “Rei da Vela” oswaldiano ainda parece bastante apropriada, com sua carga de denúncia e inconformismo, e estaria exigindo uma nova montagem! Enquanto a aguardamos, nada mais salutar que a leitura do Livro de Maria Augusta Fonseca, que permite que novos leitores se iniciem na genialidade da obra de Oswald de Andrade.
Peço que me orientem como fazer para enviar um arquivo em anexo: gostaria de enviar o texto de meu livro (tese de mestrado) “Um ciclone na paulicéia: oswald de Andrade e a Vida Intelectual em São Paulo”. Também tenho uma sugestão: eu poderia enviar um arquivo com as capas das primeiras edições de Oswald de Andrade para colocar no site. Abraços Rubens