Antropófagos, uni-vos!
9 dez 2005
SESC Pompéia recebe, a partir de quarta (14) músicos,
filósofos e antropólogos no Encontro Internacional de Antropofagia
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Assim inicia, Oswald de Andrade (1890-1954), o Manifesto Antropofágico publicado em 1928, marco cultural brasileiro após a Semana de Arte Moderna de 1922. Para rememorar o conceito fundamental criado pelo escritor, o Encontro Internacional de Antropofagia (EIA!), idealizado por Zé Celso Martinez Correa com curadoria da compositora Beatriz Azevedo, tem início na próxima quarta-feira (14), no SESC Pompéia, e recebe Jorge Mautner, Manuela Carneiro da Cunha, Suely Rolnik, Pascoal da Conceição, Jean François Chougnet, Zé Miguel Wisnik entre outros antropófagos.
Foi na primeira edição da Revista de Antropofagia, publicação a partir da qual o movimento antropofágico passou a divulgar suas ações, que o Manifesto repleto de metáforas e aforismos apareceu pela primeira vez. E as influências para o surgimento do texto foram muitas: Karl Marx (1818-1883); Totem e Tabu, de Sigmund Freud (1856-1939); o escritor surrealista André Breton (1896-1966); o Manifeste Cannibale escrito por Francis Picabia (1879-1953) em 1920; os filósofos Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Michel de Montaigne (1533-1592). 

Assim, não é à toa, que durante o EIA!, o conceito de Antropofagia será abordado sob diversas perspectivas, por antropólogos, críticos literários, estudiosos das religiões, filósofos, historiadores, psicanalistas, sociólogos, artistas e intelectuais. “Zé Celso foi o motor da idéia do Encontro. Em mim ecoou a necessidade de celebrar a figura de Oswald de Andrade e seu pensamento original sobre o Brasil e o mundo!”, diz Beatriz Azevedo.
A noção de antropofagia surgiu inspirado num quadro recebido por Oswald de Andrade como presente de Tarsila do
Amaral(1886-1973), em 1928. O Abaporu, que em tupi-guarani significa “antropófago”, ajudou a dar inicio ao Clube de antropofagia, do qual surgiu a Revista e, conseqüentemente, o Manifesto. “O Manifesto Antropófago é pleno de vitalidade, de conhecimento, de utopia. Exatamente por isso, nesse momento em que vivemos agora, ele torna-se novamente um manancial, uma fonte, uma usina”, diz Azevedo. Inspirando-se no modo de vida de alguns grupos indígenas do Brasil, Oswald de Andrade valorizou o primitivo e o Matriarcado de Pindorama (Pindorama país do futuro, cantando por Gilberto Gil em Geléia Geral, no disco Tropicália) – país utópico, tomado como modelo para a reorganização da vida social em bases livres e igualitárias. “O estudo das práticas rituais antropofágicas mostra que, mesmo quando uma tribo guerreia com outra, há o desejo de incorporar as qualidades do Outro. Idéia muito diferente das guerras do assim chamado mundo “civilizado”, no qual uma guerra expressa o desejo de aniquilar totalmente o outro. A vida é devoração, afirma Oswald. A questão é muito complexa e profunda, acredito que o EIA! vai trazer à tona muitas reflexões importantes e sobretudo vai desfazer os imensos preconceitos que cercam a questão”, diz.
Além do encontro no SESC Pompéia, o fechamento do EIA! acontecerá também no SESC Santos, no sábado, com show de Zé Celso Martinez Correa e Zé Miguel Wisnik.
Navegue pelo site do Encontro e conheça a programação completa http://www.antropofagia.com.br